quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Projeto My City, My Home, My Responsability


Um Projeto Internacional e Uma Memória Visual do Mundo a partir de Fernão Mendes Pinto
My City, My Home, My ResponsabilityChime e Centro UNESCO



A formação internacional Erasmus+, My City, My Home, My Responsability/Chime desenvolve-se em torno de valores da cidadania e, neste caso e, mais especificamente, de valores associados à memória da cidade e da sua exploração em vídeo em contexto de sala de aula e de aprendizagem.




O projeto, pelos valores que que aborda e pretende explorar, só poderia ser abraçado igualmente pelo Centro UNESCO. Essa convergência de objetivos da Formação My City, My Home, My Responsability com os objetivos da UNESCO relativos ao património e à cidadania traduz-se nos seguintes aspetos:
. Preservação do património material e imaterial da humanidade.
. Promoção de valores ligados à cidadania cuidadora, consciente, ativa, eticamente responsável.
. Desenvolvimento de uma relação de conhecimento entre o aluno e a cidade.
. Desenvolvimento de uma relação de memória entre o aluno e a cidade e os que nela viveram e criaram património.
. Criação de uma memória narrativa que continua o passado no futuro, combatendo o esquecimento e dando ao tempo a densidade significativa que a velocidade comunicativa retira.

No âmbito deste projeto cada grupo de escolas europeias vai apresentar um trabalho realizado pelos alunos, em vídeo, com concurso a decorrer na escola, sobre Fernão Mendes Pinto - um autor do concelho que viveu em Almada e partiu pelo mundo, muito mais mar do que terra, à procura do múrmurio outro do mundo, depois da Índia, mas ainda procurando em Português o que, depois na mesma língua de Camões, ficou registado como uma PEREGRINAÇÃO.

Nessa magna obra leu um mundo novo para a Europa e deixou-nos para ler as marcas e murmúrios dessa leitura, tão singular quanto rara, de uma distância que fomos tornando cada vez mais próxima. Acontece que se o mundo onde Fernão Mendes Pinto foi nos é cada vez mais próximo, a sua obra ficou paradoxalmente cada vez mais distante. Tentando combater essa distância que é esquecimento, os professores do Agrupamento da Emídio Navarro, aproveitando este projeto internacional a que o Centro UNESCO se associa, pretendem retormar a leitura dessa obra com apresentação em vídeo. Os alunos vencedores desta viagem, de memória e técnica, irão no final de março a Valência para partilhar o seu trabalho com os colegas da Roménia, da Grécia, da Turquia, de Itália e de Espanha.

Recorde-se que o projeto anual do Centro UNESCO é Ensaios de Leitura. Assim, este trabalho a desenvolver, no âmago deste projeto internacional, pode ser um ensaio de leitura de excertos da Peregrinação e torna, por meio do papel central da imagem-vídeo, essa leitura uma obra de imagens e memória nossa, da nossa cidade e uma leitura responsabilizante. Ser responsável é responder pelo que ainda nos fala de nós e do mundo e nos fala de uma maneira que já está esquecida. Aquele que fala do e com o esquecido é duplamente responsável, porque salva os mortos do passado e oferece ao presente o futuro que todo o texto, por ser universo de possibilidades, deixa diante de nós como chave que abre a opacidade da vida para o que estava diante e não se via.

«Enquanto a leitura for para nós a iniciadora cujas chaves mágicas nos abrem no fundo de nós próprios a porta das moradas onde não teríamos sabido penetrar, o seu papel na nossa vida é salutar. »                                                                          /Marcel Proust, Sobre a Leitura, p.51

Guia-nos, neste projeto e no Centro UNESCO, esta frase de Proust com que esperamos criar nos alunos um forte sentido de responsabilidade pelo passado comum e um sentido de urgência em quebrarmos este sonambulismo e funambulismo com que tornamos o presente sem espessura e as consciências sem memória e, por isso, impreparadas para a ação. Com efeito, só aquele que se sente só e uma ilha se sente impotente, inversamente, o aluno que tem um património de ideias dentro de si tem que responder pelo seu poder e pelo que pode a partir delas e com elas em busca da sua identidade.
Isabel Santiago
Fevereiro de 2018