sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Comemoração do Dia Mundial da Filosofia na ESEN

 Dia Mundial da Filosofia - O respeito pela verdade e o combate da mentira



Este ano a Diretora Geral da UNESCO, Audrey Azoulay, considerou que a Filosofia desempenha um papel insubstituível em tempos que designou serem de “crise” e de “incerteza”. Com efeito, a situação anómala em termos de vida comunitária que nos tem afetado desde 2020, tem provocado sobressaltos e ruturas nos nossos modos de vida habitual e todos sentimos e experimentamos a dúvida como um estado mais permanente e inquietante. Sobretudo porque a dúvida não se torna passageira, mas é um estado que vai, sem respostas para as perguntas que ficam abertas, corroendo a esperança e a crença no futuro.


Vários são os aspetos que perturbam a nossa vida. Não há liberdade, não há convivialidade, não há troca presencial de palavras, ideias e afetos. Também não há diferença entre espaço de trabalho e espaço de intimidade, não há paisagem, porque tudo é ecrã. E, ao ecrã têm-nos chegado notícias que parecem parodiar as proposições científicas mais apuradas e testadas pelo pensamento crítico da comunidade científica. Ao ecrã, com muita facilidade e velocidade, chegam as mais inusitadas afirmações que põem em causa quase tudo sobre Física, Biologia, Medicina, e, em geral, sobre o corpo do conhecimento científico. Mas também chegam notícias sobre política e outros factos sociais que desnorteiam, porque a verdade e os procedimentos mentais e experimentais que asseguram a sua defesa, estão a ser postos à prova por uma máquina de mentiras que perturba a ordem natural do conhecimento e das razões cívicas com que fomos construindo modos de vida e experiências sociais. Esta máquina veicula com demasiada velocidade insensatez, a ideia de que vivemos num planeta plano, em que os níveis de suspeita devem ser elevados, porque até os vírus se fabricam para gerar guerras sem armamento.

Preocupados com este nível de insensatez e com a perda dos critérios valorativos que podem e têm norteado a busca pela verdade no mundo ocidental, fazendo valer esses valores que nos parecem poder combater e fortalecer o pensamento dos que vivem estes tempos de crise e incerteza, o Departamento de Filosofia elegeu as Fake News como tema da análise e das atividades a desenvolver com os alunos. Afinal, como permanecer indiferente aos ataques ao conhecimento e à democracia que esta máquina de mentiras tem desencadeado?

A primeira proposta que foi lançada aos alunos foi escolherem notícias dos mais variados meios e órgãos informativos e, a partir de três critérios, analisarem-nas quanto à proximidade, ao rigor e à transparência. O intuito era o de dotar o pensamento de critérios de avaliação e de combate relativamente ao falso, ensinar aos alunos que a Filosofia tem recursos críticos eficazes para validar e distinguir o falso do verdadeiro e que esses recursos são úteis e preciosos para a procura da verdade. No fundo, pretendeu-se treinar os alunos para o exercício crítico em relação a um domínio dominante, passe a redundância, da comunicação e dos seus diversos meios nas suas vidas.

A segunda proposta consistia em parodiar uma fake ou uma tese descontextualizada, mas em moda nos meios de comunicação em rede, nas chamadas redes sociais. Com essa paródia visava-se provocar reação e quebrar o adormecimento crítico ou o encolher de ombros com que deixamos que informações e teses absurdas inundem a vida de milhares de pessoas impreparadas para a validação crítica que vem sendo substituída pelo número de visualizações ou de comentários.

Os alunos, como sempre, responderam com afinco e empenho a estas propostas que os professores lançaram. Essa resposta reforça em nós a convicção de que a Filosofia é um corpo conceptual e crítico indispensável para combater hoje, como há quase vinte e seis séculos, a tomada de poder pelos bárbaros ou pela ignorância que se apropria da linguagem humana como o vírus dos nossos corpos.

Assim, a par da visibilidade de todos os trabalhos produzidos pelos alunos, esperamos ter deixado no domínio invisível do pensamento de cada um, um aparato crítico que os faça derrubar o falso e desbravar o campo aberto para um horizonte de esperança que só se consegue pelo respeito pela ciência e pelos valores democráticos.

Departamento de Filosofia

18 de novembro de 2021

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